Tudo tem lá seu tempo. E vida nos traz
acontecimentos a nos mostrar significados outros.
Coisa difícil essa de assistir as surpresas que
a vida nos traz, deixando rastro de lição e emoção. Encontro improvável, mas talvez
já traçado pelo destino.
Estava eu em recepção de hospital a esperar
início de cirurgia de mãe. Apreensiva, coração em agonia.
E avistamos aquele senhor. Eu não o conhecia. Só
ouvira falar. Professor Tatai, como era conhecido. Amigo dos meus pais, ali
presentes.
Do pouco que escutei, eram 90 anos de vida e “ainda
gostando das coisas do amor”, como dizia. Casado há mais de seis décadas, oito
filhos, Dezessete netos e dez bisnetos, numa matemática que, por si só, já
contaria longa e bela trajetória de vida.
Começou cedo como alfaiate. Mas queria crescer.
Estudou, formou-se em magistério, achava bonito ofício de professor. Foi
além. Estudou Direito e Psicologia e se tornou respeitado homem de referência em caráter
e cultura de cidade pequena do interior da Bahia.
Nada disso foi importante quando o vi. Em olhar primeiro, apenas senhorzinho de 90 anos, caminhar lento, já não
enxergava. Mas logo força da presença se fez presente. Deu abraço apertado
ao ser apresentado e percebi alma de grandiosidade, feito pedra que garimpeiro
encontra em meio a tantas e sente que aquela é diferente das outras. Tem
valor. Sem precisar saber de muita coisa mais. Não importa quem foi. Não
importa títulos, não importa patrimônio, não importa prêmios. Nem conquistas. Caminhar
abriu espaço para bagagem leve e consistente.
Momento era do conhecer, do observar, do
escutar. Mais algumas horas e faria delicada intervenção cirúrgica que mudaria
sua rotina de vida. Seus hábitos. Ao ser
questionado se estava preparado para aquele momento, ele serenamente responde: “Estou
nas mãos de Deus. Ele sabe o que faz”. Impressionou-me
a calma. Mansidão. Como se fosse simples feito virar página de livro, para
escrever outro capítulo. Resignação.
Tem pessoas que a gente encontra pelo caminho
para ser exemplo. Pessoas que a gente pensa que vai consolar e sai
mais fortalecido do encontro. Almas de grande valor.
Agradecer encontro. Lição de resignação e fé. Lição
para lembrar que corpo é passageiro, que cultivar valores morais é mais
importante, faz a riqueza da alma.
Passei dias pensando nele. No exemplo. Na
força. No quanto somos pequenos e mesquinhos, em situações pequenas do
cotidiano. Nos arbustos das nossas imperfeições que deixamos que cresça em
nossa alma.
E ele dizia apenas: “Só tenho que agradecer a Deus
os instrumentos que tive e ainda tenho”.
Mais uma bela lição da escola da vida.
Liz Midlej
Liz Midlej
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