Nem sempre as pessoas se separam: esgarçam-se às vezes. Viver
esgarça. É algo que se afasta sem romper completamente. Também no que esgarça
pode haver despedida pois, embora não haja perda de matéria, nunca mais será
como antes.
Despedir-se é sutil, nem sempre aparece. Seres em mutação,
vivemos a mudar sem saber. Na mudança, transforma-se em recordação o que antes
era união e vontade, amizade ou convivência. Tudo faz-se retrato, álbum,
caderno, poema, carta, saudade ou memória. A despedida não é por querer:
acontece a despeito. Um simples “até já” pode conter inimagináveis
"nuncas". Ou "sempres".
As grandes despedidas dão-se – contudo – sem que o percebamos.
As que sabemos e sofremos não são despedidas completas, pois a saudade e a
memória hão de trazer de volta o sentimento genuíno que agora causa dor. As
grandes despedidas infiltram-se no cotidiano e nos atos corriqueiros de cada
dia sem ser percebidas. Muitos anos depois, vamos verificar que disfarçado em
dia-a-dia ali estavam e estalavam saudades antecipadas, vários
"nuncas" dos quais jamais suspeitamos. Nunca se sabe onde está uma
despedida. A não ser muito depois.
Arthur da Távola
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