Um
amigo acaba de morrer em mim.
Foi
morrendo assim, devagarzinho, feito vento meliante que espreita madrugada. Quando
percebi já não respirava mais. Não havia percebido que a amizade estava doente.
E quando a amizade fica doente, se você não tomar semancol, humildol ou
desculpol, o vírus da mágoa se alastra pelo corpo todo. A mágoa é como lepra. Primeiro
apodrece a palavra, o brilho nos olhos e depois o respeito. É quando você diz “olá”
querendo dizer “adeus”.
O
amigo quando fina não vai para o céu, fica vagando feito alma penada no inferno
da lembrança. O finado amigo é um espírito que fala através de outras pessoas e,
ainda que ele grite, você já não escuta mais. Um amigo falece por vários
motivos, desde falta de açúcar nos olhos até a fraqueza no abraço. Mas o pior
de tudo é o enfarto da admiração. A admiração pelo amigo é o sangue que bombeia
a amizade. Sem esses glóbulos brancos, negros e amarelos o amor acaba. E se você não ama mais teu amigo... jaz.
Amigo
a gente não divide: Se ele é menos a gente multiplica, mas quando ele morre a gente
já nem conta mais. O amigo quando cessa é o como se o passado cometesse
suicídio com um tiro na saudade, ou uma corda pendurada na lembrança. Isso
quando você mesmo não o mata, atirando na testa um desprezo de pedregulho. Quando
a amizade começa a tossir... É bom medir a pressão.
Meu
amigo está morto, na autópsia consta que foi envenenamento: cianureto de
orgulho. O
Funeral foi agora há pouco, sem flores nem lágrimas no meu coração. O enterro
segue sem alarde em respeito aos familiares.
Sérgio Vaz
Poeta brasileiro
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