O problema não é a dor.
O que machuca é não achar
sentido para tanta coisa. É que algumas memórias nos
atiram mesmo pra fora da estrada. Muita vida passou, e de vez em quando o ar
ainda parece inconstante e rarefeito. Seria ingenuidade
acreditar que permaneceríamos impunes.
A gente vai crescendo e
percebe quanta tolice havia em nossos desejos de querer construir mundos que
durassem para sempre. Não duram. Os mundos não. A gente dura.
Porque a despeito de tudo
a vida nos invade com toda sua intensidade, por mais que tentemos nos esconder
sob as cobertas, às vezes. E graças a
Deus. Porque só assim temos certeza que lá dentro, em algum canto, a gente
ainda preserva aquela menina que comia no prato colorido da casa da Avó e que
tinha tantas certezas e tantos sentimentos. Os sabores são outros, eu
sei. As sensações também. Mas a menina de cada uma
ainda é a mesma.
Eu sei que é.
Algumas coisas não serão
nunca compreendidas. E talvez isso nem tenha
mais importância. Muita coisa ganhou novo
significado. Perdemos algumas certezas,
ganhamos outras. O tempo passou sim, sem
anestesia.
Solange Maia
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