Caro
Caetano,
Nos
EUA, quando eu era menino, havia uma campanha para prevenir acidentes na
estrada. O slogan rezava: “Amigos não deixam amigos bêbados dirigir”. Lembrei
disso ao ler suas declarações e as de Paula Lavigne sobre biografias no Brasil.
Fiquei tão chocado que me sinto obrigado a lhe dizer: amigo, pelo amor de Deus,
não dirija.
Nós
nos conhecemos há muitos anos, desde que ajudei a editar seu “Verdade Tropical”
nos EUA. Depois, você foi maravilhoso quando lancei no Brasil a minha biografia
de Clarice Lispector, escrevendo artigos e ajudando com o alcance que só você
possui. Admiro você, de todo o meu coração.
E é
como amigo e também biógrafo que te escrevo hoje. Sei que você sabe da
importância de biografias para a divulgação de obras e a preservação da memória;
e sei que você sabe quão onerosos são os obstáculos à difusão da cultura
brasileira dentro do próprio Brasil, sem falar do exterior.
Fico constrangido em dizer que achei as declarações suas e da Paula, exigindo censura prévia de biografias, escandalosas, indignas de uma pessoa que tanto tem dado para a cultura do Brasil. Para o bem dessa mesma cultura, preciso dizer por quê.
Fico constrangido em dizer que achei as declarações suas e da Paula, exigindo censura prévia de biografias, escandalosas, indignas de uma pessoa que tanto tem dado para a cultura do Brasil. Para o bem dessa mesma cultura, preciso dizer por quê.
Para continuar lendo o texto Aqui
Benjamin Moser, texto publicado na Folha de São Paulo em 9 out 2013.
**
**
É triste aceitar, mas eles mudaram. Talvez
para pior, diante dos nossos conceitos. Talvez para melhor aos olhos de
artistas que, como eles, buscam o antagonismo moderno – lutando contra tudo o
que a sociedade considera sensato – a transparência em toda e qualquer relação. Só nos resta deletar essa atual fase e fixar
na memória aqueles cabeludos, que brigavam com o mundo pelo direito de (veja
que ironia!) “afastar de mim esse cale-se”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário