Nossa vida está perdendo consistência.
Espessura. Segurança. Estamos mais sujeitos a mudar do que a insistir. Estamos mais sujeitos a nos separar do que a
permanecer casados. Estamos mais sujeitos a ir embora do que a
voltar para casa.
Se algo incomoda, se algo atrapalha, o botão
Desapego é rapidamente acionado. Como não pretendemos sofrer, caminhamos para
a total insensibilidade. Deixa-se o começo por outro começo. Não há mais meio
ou fim, o que vigora é a desistência. Substituímos a responsabilidade pela ideia de
liberdade.
Experimentar é a lei – fazer patrimônio e
futuro não tem sentido. Anteriormente, nos dedicávamos à família.
Agora, nossa obsessão é o prazer pessoal. Danem-se as complicações. A aparente leveza se assemelha a
desenraizamento. Buscamos chegar logo, não olhar a paisagem. A
velocidade é o que nos provoca. Buscamos desembarcar logo num novo destino, não
nos vale a estrada. A viagem deve ser curta e indolor, jamais reflexiva e
longa.
Ter um romance longo é quase uma insanidade,
assim como ler um livro de 400 páginas ou assistir a um filme de três horas. Não oferecemos chance para permanência, para
a rotina, para a confirmação das expectativas. Repare. O mundo virou sábio de repente: todos
têm soluções, ninguém mais convive com seus problemas...
Fabrício Carpinejar
Crônica publicada no Jornal Zero hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário