Gostava
mais quando tu eras feito de mata, de rio, de chuva, de temporal, de clareira. Eras o
próprio relâmpago. Eras trovão rugindo entre as estrelas no Pantanal.
Gostava
mais quando teu canto era de força, de guerra, de plantio, de colheita, de crença.
E te igualavas aos bichos da floresta.
Gostava
mais quando tua fogueira te guardava, te aquecia, te alimentava, te iluminava. E
a fumaça ia de encontro aos teus espíritos.
Gostava
mais quando teu cocar de penas te dava autoridade e aos meus olhos era um arco
íris. O mais belo desenhado na terra.
Gostava
mais quando teu corpo nu era pintado de coragem, da onça, do bugio, do lobo
guará, da anta, do jacaré, da ariranha, da sucuri.
Quando
teus pés descalços abriam caminhos sem destruir a natureza.
Gostava
mais, quando eras Atikum, Terena, Bororo, Cinta Larga, Guarani, Guató, Kadiweu,
Kinikinawa, Ofaié, Kaiowa, Xavante, Xiquitano, Guarani Kaiowá.
Gostava
mais quando não sabias do Pai nosso, quando não sabias de mim, das minhas
crenças, minhas doenças, do meu quintal cercado de ambição.
Não
serás mais curumim, cavaleiro, canoeiro, guerreiro. Por que não te deixaram
assim? Fizeram-te
forasteiro em suas matas.
Sem arco, sem flecha, sem zarabatana, sem oca, sem
taba, sem tribo, sem etnia.
Sem chão. Cobriram
teu corpo com trapos sintéticos, prenderam teus pés com sapatos.
Deram um nó em
tua língua.
E
agora cavam buracos para esconder a tua história.
Marileide Antunes
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Muito obrigada Liz,nem sei o que dizer...
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