[...] Há uma serenidade
nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam
pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de
seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante: Faz
muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura nada
no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus
gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos
não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as
envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.
Cada idade tem seu
esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho
de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é
preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.
A mulher madura está
pronta para algo definitivo. É um
ser luminoso, é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se
banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia.
Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas
ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para
casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.
Affonso Romano de Sant'anna, trechos do seu livro "A mulher madura", 1986
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