A vida não é bolinho, quem não sabe?
Mas é impressionante a quantidade de pessoas que conseguem complicá-la
ainda mais. Acreditam que só erros enormes geram consequências, sem perceber
que as pequenas bobeadas é que desgastam. Nem se dão conta da quantidade de
facilitações que poderiam aplicar no dia a dia, tornando a vida bem mais
producente.
Exemplos, exemplos.
Ligar-se minimamente num troço chamado relógio, pra começar. Se você tem
hora marcada para uma consulta, hora marcada para fazer uma prova, hora marcada
para pegar um avião, qual é a dificuldade de planejar o tempo que vai levar até
lá? Chega de colocar a culpa no trânsito. É claro que você pode prever se vai
levar meia-hora ou 50 minutos para deslocar-se – o pior que pode acontecer é
chegar antes, e aí nada como ter um livrinho à mão enquanto aguarda (já dizia
Gabriel García Márquez: se cada um levasse um livro dentro da mochila, o mundo
seria bem melhor).
“As pessoas se afogam num pires”, costuma sentenciar uma psicanalista
amiga minha, confirmando que a maior parte das pessoas poderia simplificar suas
vidas, mas são especialistas em se atrapalhar, e o pior: transformam essas
pequenas atrapalhações em crises existenciais. “nada dá certo pra mim”.
Se alguém tem que ir até um endereço que não conhece, é tão fácil
consultar o Google Maps antes de sair. No caso de gamar por uma blusa na
vitrine, seria prudente saber se o saldo no banco comporta essa compra extra.
Se a última garrafa d´água da casa foi aberta, não custa passar num mercadinho
e renovar o estoque pra não ser surpreendida por uma sede absurda no meio da
noite.
Se vai ter um big festão na sexta, não convém chegar ao cabeleireiro sem
hora marcada. Se ofendeu um amigo, melhor pedir desculpas antes que se
transforme numa mágoa séria. Se o filho tem dificuldades na escola, não esperar
o último mês do ano letivo para tomar providências.
Planejou uma viagem ao exterior? Confira o prazo de validade do
passaporte (não no dia do embarque, gênio). Se o seu santo não cruza com o de
um fulano, para que sentar à mesma mesa que ele?
Se agendou uma entrevista de emprego, confira antes se a camisa está
limpa e passada. Marcou um compromisso para as 16h, não marque outro para as
17h no outro lado da cidade.
Se está em guerra com a balança, ok, é difícil perder peso, mas
continuar comendo uma caixa de Bis por noite não vai operar milagres. É claro
que sua cunhada vai se chatear se você expor na sala as fotos do seu irmão com
a ex-mulher dele. Pô.
Você deve ter lembrado mais uns 200 exemplos da série “se posso
complicar, por que facilitar?”. São essas pequenas besteirinhas do cotidiano
que, mal administradas, fazem com que nosso dia seja mais encrencado que o dos
demais, mas quem vai se dignar a planejar um dia satisfatório se a ordem é
deixar rolar?
E lá vai você rolando para dentro do pires, se afogando numa pocinha de
nada.
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Martha Medeiros
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