2004
Olhando daqui, percebo que pessoas e circunstâncias tiveram um propósito
maior na minha vida do que muitas vezes eu soube, pude ou aceitei perceber.
Parece-me, agora, que cada uma, no seu próprio tempo, do seu próprio modo, veio
somar para que eu chegasse até aqui, embora algumas vezes, no calor da emoção
da vez, eu tenha me rendido à enganosa impressão de que veio subtrair. A vida
tem uma sabedoria que nem sempre alcanço, mas que eu tenho aprendido a
respeitar, cada vez com mais fé e liberdade.
O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias
certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma.
Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi
graça, alívio e abertura.
A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a
manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa
noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças
alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos
apertos.
A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo
o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da
alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A
gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a
felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus
frutos.
Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui e sou grata a tudo, invariavelmente.
Curvo meu coração em reverência a todos os mestres, espalhados pelos meus
caminhos todos, vestidos de tantos jeitos, algumas vezes disfarçados de dor.
Eu mudei muito nos últimos anos, mais até do que já consigo notar, mas
ainda não passei a acreditar em acaso.
Ana Jácomo
Lindo Liz, como você! a sensibilidade da tua alma nos faz acreditar na vida e no mundo. Feliz quem tem o prazer de te ter por perto, no coração.
ResponderExcluirAdoro!!!