É o mesmo país que hoje constrange quem se declara vítima de um abuso semelhante – ao menos se essa vítima for uma personalidade como a Xuxa. Horas após contar, em uma entrevista ao Fantástico, que sofreu abuso sexual na infância, a apresentadora virou pauta obrigatória nas rodas de conversa e meios de comunicação. [...]
Por se tratar de uma figura pública, a revelação de Xuxa poderia encorajar vítimas do presente a quebrar o silêncio, denunciar a agressão e buscar justiça.
Mesmo assim, o esforço do público e dos formadores de opinião para transformar o episódio em piada foi notório. Era como se a repórter covarde a empunhar o microfone como chicote na tevê tivesse se multiplicado Brasil afora, desta vez para açoitar a celebridade que teve a audácia de confessar um trauma em público.
E o que a Xuxa e o jovem açoitado pela repórter na Bahia têm em comum? Nada, a não ser a exposição diante de uma multidão sangrenta e incapaz de lidar com seus próprios crimes de maneira honesta. Casos de abuso sexual existem aos montes, mas poucos tiveram a coragem de se expor e gritar para que não se repitam. Só quem passou por momentos assim sabe o quanto pesa a distância entre o silêncio e a exposição. Não parece produtivo combatê-los na base do escracho ou da hipocrisia.
Matheus Pichonelli, trechos de Sobre meninos e lobos
Para ler o texto completo aqui
Fonte Carambolas Azuis
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